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domingo, 30 de agosto de 2015

CHAPEUZINHO VERMELHO

 
 
Era uma vez uma meninazinha mimosa, que todo o mundo amava assim que a via, mas mais que todos a amava a sua avó. Ela não sabia mais o que dar aessa criança. Certa vez, ela deu-lhe de presente um capuzinho de veludovermelho, e porque este lhe ficava tão bem, e a menina não queria mais usar outra coisa, ficou se chamando. Certo dia, sua mãe lhe disse:– Vem cá, Chapeuzinho Vermelho; aqui tens um pedaço de bolo e uma garrafa de vinho, leva isto para a vovó; ela está doente e fraca e se fortificarácom isto. Sai antes que comece a esquentar, e quando saíres, anda direitinha ecomportada e não saias do caminho, senão podes cair e quebrar o vidro e avovó ficará sem nada. E quando chegares lá, não esqueças de dizer bom-dia, e não fiques espiando por todos os cantos.– Vou fazer tudo como se deve, – disse Chapeuzinho Vermelho à mãe,dando-lhe a mão como promessa.A avó, porém, morava lá fora na floresta, a meia hora da aldeia.E quando Chapeuzinho Vermelho entrou na floresta, encontrou-se com olobo. Mas Chapeuzinho Vermelho não sabia que fera malvada era aquela, e nãoteve medo dele.– Bom dia, Chapeuzinho Vermelho, – disse ele.– Muito obrigada, lobo.– Para onde vai tão cedo, Chapeuzinho Vermelho?– Para a casa da vovó.– E o que trazes aí debaixo do avental?– Bolo e vinho. Foi assado ontem, e a vovó fraca e doente vai saboreá-lo ese fortificar com o vinho.– Chapeuzinho Vermelho, onde mora a tua avó?– Mais um bom quarto de hora adiante no mato, debaixo dos três grandescarvalhos, lá fica a sua casa; embaixo ficam as moitas de avelã, decerto já sabesisso, – disse Chapeuzinho Vermelho.O lobo pensou consigo mesmo: "Esta coisinha nova e tenra, ela é um bombocado que será ainda mais saboroso do que a velha.Tenho de ser muito esperto, para apanhar as duas".Então ele ficou andando ao lado de Chapeuzinho Vermelho e logo falou:

– Chapeuzinho Vermelho, olha só para as lindas flores que crescem aquiem volta! Por que não olhas para os lados? Acho que nem ouves o maviosocanto dos passarinhos! Andas em frente como se fosses para a escola, e noentanto é tão alegre lá no meio do mato.Chapeuzinho Vermelho arregalou os olhos e, quando viu os raios de soldançando de lá para cá por entre as árvores, e como tudo estava tão cheio deflores, pensou: "Se eu levar um raminho de flores frescas para a vovó, ela ficará contente; ainda é tão cedo, que chegarei lá no tempo certo".Então ela saiu do caminho e correu para o mato, à procura de flores. Equando apanhava uma, parecia-lhe que mais adiante havia outra mais bonita, eela corria para colhê-la e se embrenhava cada vez mais pela floresta adentro.O lobo, porém, foi direto para a casa da avó e bateu na porta.– Quem está aí fora?– É Chapeuzinho Vermelho, que te traz bolo e vinho, abre!– Aperta a maçaneta, – disse a vovó – eu estou muito fraca e não posso melevantar.O lobo apertou a maçaneta, a porta se abriu, e ele foi, sem dizer umapalavra, direto para a cama da vovó e engoliu-a. Depois, ele se vestiu com aroupa dela, pôs a sua touca na cabeça, deitou-se na cama e puxou o cortinado.Chapeuzinho Vermelho, porém, correu atrás das flores, e quando juntoutantas que não podia corregar mais, lembrou-se da vovó e se pôs a caminho dasua casa. Admirou-se ao encontrar a porta aberta, e quando entrou, percebeualguma coisa tão estranha lá dentro, que pensou: "Ai, meu Deus, sinto-me tãoassustada, eu que sempre gosto tanto de visitar a vovó!" E ela gritou:– Bom-dia!Mas não recebeu resposta. Então ela se aproximou da cama e abriu ascortinas. Lá estava a vovó deitada, com a touca bem afundada na cabeça e umaspecto muito esquisito.– Ai, vovó, que orelhas grandes que você tem!– É para te ouvir melhor!– Ai, vovó, que olhos grandes que você tem!– É para te enxergar melhor.– Ai, vovó, que mãos grandes que você tem!– É para te agarrar melhor.– Ai, vovó, que bocarra enorme que você tem!– É para te devorar melhor.E nem bem o lobo disse isso, deu um pulo da cama e engoliu a pobre Chapeuzinho Vermelho.

Quando o lobo satisfez a sua vontade, deitou-se de novo na cama,adormeceu e começou a roncar muito alto. O caçador passou perto da casa e pensou: "Como a velha está roncando hoje! Preciso ver se não lhe falta alguma coisa". Então ele entrou na casa, e quando olhou para a cama, viu que o lobodormia nela.– É aqui que eu te encontro, velho malfeitor, – disse ele – há muito tempoque estou à tua procura.Aí ele quis apontar a espingarda, mas lembrou-se de que o lobo podia terdevorado a vovó, e que ela ainda poderia ser salva. Por isso, ele não atirou, maspegou uma tesoura e começou a abrir a barriga do lobo adormecido. E quandodeu algumas tesouradas, viu logo o vermelho do chapeuzinho, e mais um parde tesouradas, e a menina saltou para fora e gritou:– Ai, como eu fiquei assustada, como estava escuro lá dentro da barriga do lobo!E aí também a velha avó saiu para fora ainda viva, mal conseguindo respirar. Mas Chapeuzinho Vermelho trouxe depressa umas grandes pedras,com as quais encheu a barriga do lobo. Quando ele acordou, quis fugir correndo, mas as pedras eram tão pesadas, que ele não pôde se levantar e caiumorto.Então os três ficaram contentíssimos. O caçador arrancou a pele do lobo e levou-a para casa, a vovó comeu o bolo e bebeu o vinho que ChapeuzinhoVermelho trouxera, e logo melhorou, mas Chapeuzinho Vermelho pensou:"Nunca mais eu sairei do caminho sozinha, para correr dentro do mato, quando a mamãe me proibir fazer isso".
Conto de Jakob e Wilhelm Grimm

Tradução de Tatiana Belink